quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Literatura: "O Grande Jogo de Billy Phelan" e "Fogo-Fátuo"


Billy Phelan ganha a vida rodeado por jogos e apostas. Mora em Albany nos anos 30, capital do estado de Nova York, no período da grande depressão e antes do início da segunda guerra mundial. Leva a vida em qualquer tipo de jogo. Boliche, bilhar, turfe, dados, nada parece não merecer sua habilidade. Orgulhoso, digno de um código de conduta próprio, parece que podia ter sido algo mais na vida e além disso é um herói improvável, que ninguém vê muito mérito, isso incluído ele mesmo. Esse é o personagem principal de “O Grande Jogo de Billy Phelan”, que a editora Cosac Naify lançou aqui em 2010 em uma caprichada edição com 344 páginas e tradução de Sergio Flaskman. Publicado originalmente em 1978 é o segundo livro do chamado “Ciclo de Albany” que o escritor americano William Kennedy fez ao longo da carreira. Nascido em 1928 tem a literatura comparada a nomes como Ernest Hemingway e Scott Fitzgerald. Além de livros, escreveu peças de teatros e roteiros de filmes (como “Cotton Club” do Coppola). Sua obra mais conhecida é “Ironweed”, trabalho que lhe rendeu o Pulitzer, e virou filme nas mãos do diretor Hector Babenco em 1987 com Jack Nicholson e Meryl Streep nos papeis principais. Em “O Grande Jogo de Billy Phelan” o autor convida o leitor para um passeio em uma cidade dominada por uma família, que manda e desmanda em tudo, da igreja a política, dos bares aos prostíbulos. Além de Phelan, temos outro grande personagem no livro, Martin Daugherty, um colunista do jornal local de bom coração e com culpa familiar pesando no peito. Envolvidos no meio de um sequestro, ambos precisam usar a cabeça para não se afundar e entrar em desespero, isso tudo permeado com acessos de violência, humor seco e uma busca por esperança e aceitação escondida lá no fundo da desordem.

Nota: 8,0


Mesmo dando voltas e mais voltas ao lado do tema, a escritora paulista Patrícia Melo nunca fez de uma obra sua propriamente um romance policial com tudo que o estilo tem direito. Isso só foi acontecer no ano passado em “Fogo-Fátuo”, publicado pela editora Rocco com 304 páginas. Sucessor do ótimo “Ladrão de Cadáveres” de 2010, a obra apresenta Azucena Gobbi, chefe do Setor de Perícias da Central Paulista de Homicídios, mulher forte e decidida, mas que atravessa um verdadeiro vendaval na vida pessoal.  Quando Fábbio Cássio, ator famoso que também tinha uma vida bastante tumultuada acaba atirando na própria cabeça em cima do palco durante uma peça ela se envolve em uma história com tons nada sublimes e cheias de picuinhas e interesses próprios. Na verdade, não se sabe ao certo se o ator se matou ou foi assassinado por alguém que colocou as balas onde não deviam estar e essa busca pela verdade é o tom maior que envolve o romance. Todavia, é nas suas margens que Patrícia Melo brilha e entrega muito mais. Primeiro, versa sobre uma cidade dominada pelo medo, onde a criminalidade galgou níveis assustadores e produz vítimas em escala industrial. Depois, enverada pela ineficácia de boa parte da polícia seja por capacidade mesmo ou por política. E conclui atirando contra a indústria das celebridades cada vez mais horrenda e atroz na correria para vender “notícias”. Em “Fogo-Fátuo”, temos uma escritora com absoluto domínio do seu ofício e que a cada livro parece crescer mais ainda. Na obra novamente exibe a tradicional falta de crença na bondade humana dos seus livros e mesmo sendo um romance policial tradicional, caminha por vielas um pouco diferentes, o que é sempre muito bem-vindo.

Nota: 8,5

Leia um trecho, aqui.

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