quarta-feira, 12 de março de 2014

"No Coração do Mar" - Charlotte Rogan


Com a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) prestes a eclodir no velho mundo, uma jovem recém-casada entra com seu amado marido no navio Empress Alexandra de volta aos Estados Unidos. O casamento que foi sacramentado na Europa parece ser mais uma linda história de amor, olhando secamente, de modo rápido. No entanto, à medida que “No Coração do Mar” avança, percebe-se que não é bem assim. Mesmo que exista uma paixão envolvida há também muita turbulência e ações premeditadas.

Quando o navio em questão sofre um acidente e naufraga em pleno mar é que a autora britânica Charlotte Rogan coloca o leitor mais a par dessas curvas do relacionamento. Na loucura para achar uma salvação, o marido coloca a esposa Grace Winter dentro de um bote salva-vidas extremamente lotado e repassa ao marinheiro que tomará conta da pequena embarcação uma misteriosa encomenda. Com as cartas mais ou menos jogadas na mesa é que a autora começa a deslanchar os principais pontos da obra.

“No Coração do Mar” (The Lifeboat, no original) foi lançado em 2012 na Grã-Bretanha e recebeu bons elogios de publicações como o Guardian e The Independent. Aqui chegou no ano passado pelas mãos da Editora Intrínseca com 240 páginas e tradução de Flávia Rossler. É o primeiro livro da autora, que passou anos escrevendo em segredo em casa até tomar coragem de mostrar o trabalho para alguém. Bem escrito e com boas nuances psicológicas envolvidas, é um trabalho que desafia lentamente o leitor.

Inspirado em um caso judicial antigo, “No Coração do Mar” é um livro que se ocupa em tratar dos limites da humanidade de cada um quando a própria sobrevivência está em risco. 21 dias presos dentro de um bote sem condições higiênicas e sem água ou comida satisfatórias podem transformar qualquer pessoa. Porém, até que ponto pode-se atribuir culpa as ações exercidas nesse período? Até que ponto os atos praticados sobre esse tipo de pressão podem ser julgados? Essas e outras perguntas buscam respostas no livro.

No entanto, entre as histórias de antes do naufrágio, da briga pela sobrevivência e do cansativo julgamento posterior, a grande estrela da obra é a personagem principal. Com uma roupagem de inocência embutida no primeiro olhar, Grace Winter mostra muito mais e o leitor fica dividido entre a ambiguidade das suas práticas e seus pensamentos. E por deixar a sua estreia navegar em áreas extremamente cinzas ao invés de um preto e branco mais comum, é que “No Coração do Mar” se destaca e merece ser lido.

P.S: O livro terá adaptação cinematográfica e a atriz Anne Hathaway (“Os Miseráveis”) será a produtora e a protagonista.

A Editora Intrínseca disponibilizou um trecho para leitura:


Nota: 7,0